Vivemos na atualidade a era da velocidade da informação, e da facilitação de processos. Antigamente, era necessário fabricar a vela para acendê-la à noite e então, enxergar. Hoje, basta o apertar de um botão ou um comando de voz. O advento da invenção e aperfeiçoamento das máquinas fez com que a vida moderna ficasse muito mais fácil e sem esforço, ao ponto de associarmos o esforço a algo ruim, desagradável, e o fácil ao correto e desejável. Para que se cansar esfregando uma camisa no tanque de lavar, se podemos colocá-la na máquina de lavar e pronto? Para que queimar os neurônios tentando calcular uma raiz quadrada de um número complexo, se a calculadora faz isso num instante e sem erros? Para que se levantar para mudar o canal de TV, como nossos pais faziam, se basta acionar o controle remoto?O esforço cansa, desgasta, demora e ainda pode levar ao erro. No nosso mundo atual, o esforço está fora de moda, bom é conseguir as coisas com facilidade. Assim sendo, como fica então a vida do atleta profissional, cujo trabalho, o desporto, consiste precisamente no esforço em si? Resultado no placar é o que todos buscam, mas o caminho para lá chegar, é o esporte em si mesmo. O atleta maratonista, por exemplo, não pode pegar uma carona para chegar mais rápido à linha de chegada, isso seria (além de trapaça da pior espécie) ridículo, pois a essência de seu esporte não é o resultado de cruzar a linha, mas sim todo o esforço e dedicação empenhados em sobrepujar os seus limites de cansaço e dor, para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Ele pode usar um tênis melhor, elaborado para ajudá-lo, mas o esforço é a alma do negócio, a razão de ser do esporte; de todo e qualquer esporte. Reza o ideal olímpico que devemos sempre buscar a superação dos limites humanos, mais rápido, mais alto, mais forte. Bem, não se consegue isso buscando o caminho mais fácil.O objetivo desta pesquisa foi justamente buscar conhecer quem é esse profissional cujo trabalho não pode ser facilitado pela eliminação do esforço, e que está na contramão da subjetividade contemporânea. Do que padece ele ou ela? Como consegue trafegar entre o macrocosmo da subjetividade valorizadora das facilidades e o microcosmo desportivo, onde o valor está naquilo que o macrocosmo nega? Qual é o papel do doping nisso? Essas e outras perguntas que lhe convido a vir acompanhar, as reflexões e caminhos a que tais perguntas nos levam, a quais descobertas sobre nós mesmos, os não atletas e sedentários. Só entrando em campo e lendo você saberá como o jogo termina.