Não há originalidade, apenas a dança incessante da personalidade através de uma miríade de linguagens. Esta convicção me remete aos tempos passados, quando nobres poetas como Quevedo, erguendo a pena como estandarte, proclamavam em seus poemas: Imitação de Horácio, Imitação de Ovídio, Imitação de Lucrécio. O eco dessas palavras reverbera em minha mente, como se um coro de sombras sussurrasse ao vento.Assim, me encontro neste limiar, um poeta menor, diante da tarefa árdua de tecer crônicas e narrativas sob a égide de uma confissão ousada: Imitação de Bernardo Soares. Contudo, não é minha intenção entregar-me à sombra de um passado ilustre; antes, busco preservar meu próprio tom, uma melodia singular que ressoa na tessitura dos dias.Como escriba, em uma era de infinitas possibilidades, percebo que o poeta, o cronista, o contista, o romancista são entidades versáteis, capazes de abraçar as mais diversas faces da experiência humana. Neste jogo de imitações, entrelaço meu destino com a teia literária, ciente de que, nos momentos efervescentes de criação, o produto final pode ser um fruto parcialmente influenciado por leituras vorazes e pelas pressões sutis que emanam do mundo ao redor.Ao me aventurar nas trilhas de Bernardo Soares, abro as portas do labirinto pessoal, explorando o sinuoso caminho que me conduz à essência da existência. Estas crônicas não são uma mera imitação, mas uma ode à influência, uma celebração da dança cósmica que liga cada escritor ao tecido insondável da literatura.Nesta jornada, lanço-me ao desconhecido, sem a ilusão da originalidade, mas com a esperança de capturar um vislumbre da verdade que permeia as linhas do ser. Pois, em última análise, é na imitação consciente que descobrimos a verdadeira singularidade, a chama que arde em cada coração, ecoando através dos séculos, transcendendo as eras e revelando que, no vasto palco da criação, somos todos atores, interpretando nossos papéis na grande comédia da existência.