Certo dia, numa destas aulas que nos levam à discussão de algumas das ideias de Marx, um aluno perguntou:Você é um Comunista? . Este vocábulo, em função do momento político que vivíamos, estava em alta. Expressões como Vai pra Cuba, Você é um Comunista, O Brasil vai virar uma Venezuela etc., eram comuns. Não foi a primeira, e seguramente não será a última vez que alguém faz esta pergunta. Disse que a resposta não era tão simples, mas que tentaria responder. Primeiro falei que comunismo não é, para mim, sinônimo de Stalinismo, Fidelismo ou outra personificação de modelos idealistas. Disse que as experiências vivenciadas na antiga União Soviética, China ou Cuba, são vistas por muitos teóricos como uma espécie de Capitalismo de Estado e não como modelos ideais de Socialismo. Para avançar no diálogo, perguntei se ser comunista era, para ele, acreditar num modelo de sociedade mais justa, equitativa e livre, ao que me respondeu que sim. Questionei se sua compreensão de ser comunista dava margem à diversidade cultural, às manifestações de crenças religiosas e opções sexuais, ao que também afirmou positivamente. Indaguei se a compreensão de ser comunista significava valorizar o homem em detrimento do mercado, se havia espaço para perceber que a propriedade privada, nos moldes capitalistas, contribui para agravar os problemas sociais ao invés de resolvê-los, ao que sinalizou que sim. Questionei se ele enxergava, na Divisão de Classes Sociais, uma manifestação natural entre os homens ou como fruto de uma alienação que não permite que os trabalhadores se enxerguem como iguais. A resposta dada foi que compreendia essa relação como manifestação da alienação.Foi então que olhei para ele e, serenamente, respondi:é possível que eu seja, na pior das hipóteses, um entusiasta das ideias de Marx . Os diálogos seguintes sobre classes sociais, mais-valor, renda, meritocracia, mercado, dinheiro, capital, alienação, salário etc. foram os mais ricos possíveis. Acho que vale conferir.